Um dos primeiros posts neste blog foi um “guia incompleto do completo novato ao Linux”. Na época, lá no final, eu havia explicado o conceito de distribuições diferentes e das suas escolhas. Mas sou obrigado a confessar que a lista de distribuições recomendadas tinha sido feita meio que nas coxas: A verdade é que eu não tinha a menor ideia de quais eram as distribuições certas para novatos. A última vez que eu escolhi uma distribuição “como um novato” foi há quinze anos atrás, e naquela época coisas eram bem diferentes, okay?
Mas bem, no mesmo post, eu cantei meus elogios à comunidade, e onde eu fracassei, a comunidade cobriu. O conteúdo do seguinte post não é realmente meu (eu posso ter adicionado alguns destes comentários em texto pequeninho no entanto. Basicamente, se for texto pequeno entre parênteses, é uma inserção minha :P) — Ele foi feito pelo usuário do Fediverso @Guenther_Amanita@feddit.de, com notas da comunidade Linux no Lemmy. Com direito a um fluxograma e descrições em texto.
O post original (em inglês, claro) pode ser encontrado aqui. Eu apenas produzi a tradução. (com permissão do criador!)
-Conteúdo da parte textual-
- -Introdução-
- -A escolha da DE-
- -Onde as Distros diferem-
- -As Distros-
- -Menções honrosas afins-
- -Um lembrete do seu amigável tradutor-
-Introdução-
Versão curta: Se você não está nem aí para todo esse papo, só use Linux Mint.
Como você provavelmente já sabe (eu falei disso no meu post se você quiser ler mais!) “Linux” não é um sistema por si só, ele é o núcleo de um sistema. Outras coisas são construídas em volta deste núcleo para lhe dar uma área de trabalho funcional. Em geral, essas “coisas” são empacotadas juntas para serem distribuídas, por isso o nome “distro” (lit. Distribuição).
Qualquer um pode pegar essas peças pessoalmente e montar seu próprio sistema. E como tal, há literalmente centenas de milhares de sistemas usando o núcleo Linux por aí, e para um novato, só saber isso pode ser confuso.
É por isso que pessoas vão à comunidade buscar conselhos. Não se preocupe, todos estivemos lá em algum ponto!
O fluxograma acima vai te ajudar a escolher a distribuição “certa” para você. Este texto é um complemento ao fluxograma. O fluxograma te guiará em fazer a escolha, enquanto este texto contém informações adicionais em geral sobre as distribuições.
Todas as distribuições recomendadas aqui cobrem todos estes critérios:
- Fácil de entender e intuitiva de usar
- Não requer conhecimento a fundo da linha de comando
- Confiável e funcional
- Oferece suporte a processadores gráficos NVidia
-A escolha da DE-
Antes de escolher sua distro, é importante escolher seu ambiente de trabalho preferido (Desktop Environment, daqui pra frente chamado “DE”).
A DE define a interface de usuário básica e alguns aplicativos centrais, então, com base, é sua interface com o sistema. Mas não escolha sua distribuição com base na DE, toda distro deixa você mudar sua DE depois, se você realmente quiser.
As duas DEs principais (Gnome e KDE) são listadas no fluxograma.
-KDE-
- É altamente modular e configurável, e pode virar o que você quiser
- Tem praticamente tudo o que você pode imaginar embutido
-Gnome-
- É “diferentão”, mas se você realmente desgostar do workflow único dele, você pode transformá-lo em um ambiente “clássico” com botões de maximizar/minimizar, barra de tarefas, etc.
- Você pode usar o gerenciador de extensões e o gnome tweaks para fazer isso, e também para funcionalidades como integração com Smartphones.
Se você gostar de alguns aspectos de um, mas de outros aspectos do “concorrente”, você pode alterar até ele basicamente virar o outro. Você tem a liberdade total!
-Onde as Distros diferem-
(se não é pela DE, então…) A escolha da sua Distro deve ser baseada nos seguintes pontos-chave:
- Agenda de lançamento: Algumas recebem novas funcionalidades com mais frequência, outras só atualizam uma vez a cada tantos anos. Essa estagnação é chamada “estabilidade” (não confundir com confiabilidade!) (nota do tradutor: O que o criador está dizendo aqui é que na comunidade Linux, ‘confiabilidade’ quer dizer que seu sistema funciona sem travar/quebrar, e ‘estabilidade’ quer dizer que seu sistema não MUDA com frequência, o que são coisas diferentes, uma distro estável pode ser menos confiável porque usa versões mais velhas dos aplicativos!)
- Filosofia: Quais os valores dos criadores desta distro? (I.e.: Só ser um pacote de software funcional, independente se algumas partes são proprietárias; conservador vs. de ponta; etc.)
- Base: Muitas distros são baseadas em outras. Uma base muito comum é Debian ou Ubuntu, e muitos tutoriais escritos para novatos são escritos para estes. Principalmente isso determina qual gerenciador de pacotes você usa na linha de comando. Pessoalmente eu creio que (NT: o autor, não eu!) isso é menos importante, já que você vai acabar usando o aplicativo “centro de software” para baixar e atualizar aplicativos. (NT: fale por você, autor! u-u)
- Todas as outras coisas: Comunidade de tamanho saudável, bom histórico, suporte a dispositivos de hardware, etc. já foram verificadas por mim. (NT: de novo, o autor, não eu!)
-As Distros-
E aqui está a lista de todas as distros vistas no fluxograma, com uma breve descrição de por que ela foi incluída.
-Linux Mint-
Essa é A recomendação para todos os novatos. E não é por pouco:
- Padrões muito bem escolhidos (NT: os gringos dizem ‘sane defaults’, padrões sãos, mas eu não gosto da expressão)
- Funciona. Só – Funciona, do momento que é instalado.
- Não muitos, mas uma quantidade razoável de aplicativos pré-instalados pra te colocar em contato com o ecossistema Linux
- Simples e altamente funcional
- Esconde as funções “avançadas” de forma razoável
- Base de usuários gigante, especialmente para novatos. Usuários experientes também usam Mint, e sempre estão lá para ajudar novatos.
- Não costuma mudar muito, só receber polimento. Novas funcionalidades aparecem ocasionalmente, mas sem alterar seu workflow radicalmente.
- Muito familiar se você está vindo do Windows, que é de onde a maior parte das pessoas estará vindo.
Website: https://www.linuxmint.com/
-ZorinOS-
É o maior “concorrente” do Mint neste momento.
A maior diferença dele para o Mint é a aparência do ambiente de trabalho. Enquanto o Mint é mais básico em sua aparência, Zorin quer ser agradável aos olhos e ter aparência moderna. Com ele, você pode escolher entre “estilos” embutidos, em imitação da aparência e comportamento do Windows 7, Windows 11, MacOS, e mais, dependendo do que te deixa confortável.
A agenda de lançamentos dele é lenta, uma versão a cada 3 anos, com alguns polimentos menores no meio, o que é ótimo se você não gosta de mudanças.
Não se preocupe com as versões “Pro” e “Lite”. Só pegue a versão “Core”. Isso não é como certos aplicativos “grátis” na internet onde a versão gratuita tem propagandas e tal.
- “Pro” é uma versão paga, que adiciona alguns “estilos” visuais a mais, mas o pagamento é mais para ter assistência técnica e suporte dos desenvolvedores.
- “Lite” é uma versão leve, feita para dispositivos antigos para dar uma segunda vida a eles e deixá-los melhores do que nunca, enquanto mantém a boa aparência.
Website: https://zorin.com/os/
-VanillaOS-
Esse é outro bem promissor. Ele segue a filosofia do Mint, mas a implementa de forma diferente. Ele funciona de forma um pouco diferente por baixo da tampa para garantir um sistema que está sempre funcional e que você não pode quebrar. Se você ainda foder com ele, ou recebeu um update quebrado ou algo, você pode restaurar o estado anterior em segundos.
Ele também se atualiza sozinho no fundo e aplica as atualizações na próxima reinicialização, sem tempo de espera adicional (diferente do Windows Update forçado)
Se você pegar mais experiência e tornar-se mais avançado com o tempo, pode habilitar o terminal e acessar literalmente qualquer aplicativo feito para Linux. Especialmente para quem está começando com o Linux mas é desenvolvedor, isso é muito conveniente.
Mesmo para não-desenvolvedores, e aliás, até para quem não é envolvido com tecnologia, VanillaOS é uma boa escolha para quem gosta da simplicidade do Mint mas quer algo mais moderno.
Website: https://vanillaos.org/
[Nota do autor original: A versão mais nova, VanillaOS2 Orchid, está atualmente sob desenvolvimento e é considerado um ‘beta’. É recomendável esperar até essa versão estar finalizada para uma experiência garantida]
-Fedora-
Esse um não é exatamente pensado para principiantes como os anteriores, mas é comparável, e ainda é uma ótima escolha para novos usuários. Fedora é comumente chamado de “o novo Ubuntu”, e é uma das distribuições mais usadas do mundo, com uma comunidade enorme.
Ele pertence à comunidade, mas é apoiado pelo dinheiro e os números do maior jogador no mundo dos Linuxes comerciais (NT: O autor quer dizer a empresa Red Hat, do Red Hat Enterprise Linux, ligada historicamente à gigante IBM)
Funções:
- Pode vir com qualquer DE que você quiser e tem enorme disponibilidade de software
- Agenda de lançamento “equilibrada” de 6 meses. Isso garante um ambiente que é moderno mas também confiável.
- Tudo é bem dentro dos padrões e os padrões são bem escolhidos.
- Não tem uma coleção enorme de software pré-instalado, mas tais coisas são instaláveis com um clique no centro de software.
- Orientado ao futuro: Quando uma tecnologia promissora atinge um padrão de confiabilidade, Fedora logo a adota.
Website:
https://fedoraproject.org/
https://fedoraproject.org/workstation/
https://fedoraproject.org/spins/kde/
-Fedora Atomic-
Fedora Atomic é uma variação do Fedora (NT: Baseado no Fedora original e feito pela mesma organização) que funciona diferente por baixo da tampa, mas se comporta na superfície igual ao Fedora normal. Sem se meter muito nos detalhes técnicos, os prós são os mesmos do VanillaOS (difícil de quebrar, seguro, sem atualizações pela metade, etc.)
Eu não sei se eu o recomendaria ao invés do Fedora normal por enquanto, já que devido aos detalhes internos, você pode ter problemas fazendo certas coisas funcionarem, por exemplo, um script de instalação que você achou online.
Se você é uma pessoa com uma inclinação mais tecnológica e não tem problema tendo que pesquisar de vez em quando (quando você precisa de coisas não-padrão), então vale conferir. Especialmente se você veio de outra distro e está insatisfeito.
MAS tenha em mente:
- Se você é um usuário casual, pode não precisar do terminal nessa distro. Mas se você quer fazer uso completo dela, vai ter que usá-lo de tempos em tempos.
- Na superfície ele é idêntico ao Fedora original.
- Compatibilidade não é totalmente garantida, devida às consequências desta nova tecnologia.
- Estes potenciais problemas ou ‘contras’ parecem mais dramáticos que são. Para o usuário casual você provavelmente não vai encontrá-los. Eu nunca tive problemas de compatibilidade e sempre fazia tudo funcionar no final.
Uma das coisas legais sobre ele, além dos prós já citados, é:
- A maior parte das coisas “escondidas” são, atualmente, irrelevantes se você quer mudar algo, levando a uma estrutura simplificada
- Você pode “trocar” o SO por outra coisa sempre que quiser, sem perder seus dados (imagens, jogos, etc.) Se você quiser, por exemplo, mudar de DE mais adiante, pode fazer isso facilmente trocando o ‘spin’ escolhido. Isso até funciona quando a distro quase inteira muda!
Website: https://fedoraproject.org/atomic-desktops/silverblue/
-uBlue-
Se a ideia do ambiente de trabalho ‘atomizado’ te interessa, considere o Universal Blue ao invés das variantes oficiais Silverblue e Kinoite. uBlue oferece:
- Muitas variantes da distro, mas com algumas melhorias de qualidade de vida inclusas.
- Builds customizadas para máquinas específicas, por exemplo Microsoft Surface, Asus ROG, etc. que já vem prontas, são confiáveis e não requerem ajustes técnicos.
- E variantes especiais para gostos e use-cases diferentes, por exemplo uma variante para maior segurança, e também o–
-Bazzite-
— Que é um dos maiores e “Melhores” exemplos do quão legal uBlue pode ser. É derivado dele, mas é focado em gaming. Com ele você tem vários ajustes de otimização e ferramentas para gaming inclusas, que melhoram, por exemplo, a performance.
Claro que você não precisa de uma distro gamer para seus jogos, mas se é o que você mais faz no PC, vale a pena pensar nisso. (NT: Eu uso Garuda, que também é ‘otimizado para gaming’, mas a proposta é bem diferente do Bazzite/Fedora, então é.)
Website(s):
https://universal-blue.org/installation/
https://bazzite.gg
-Arch e NixOS-
Na nossa categoria “Dor”. Eu não os recomendo para ninguém que está começando no Linux, por exemplo, por estar cansado do Windows. (NT: Nem eu! Arch puro é para pessoas insanas. Até hoje eu só usei em notebooks ‘reserva’. NixOS eu nunca nem mexi.)
Arch e NixOS são “para experts”, ou seja, eles:
- Exigem conhecimento prévio
- São difíceis de configurar & usar
- Requerem que o usuário tenha habilidade e saiba o que está fazendo
- Não seguram na mão do usuário e
- Não toleram erros de usuário
Por que eles estão nessa lista de distribuições para noobs apesar disso? Bem, porque nem todo mundo quer começar Linux na estrada fácil. Algumas pessoas querem ajustar e se desafiar – E alguns pássaros só aprendem a voar quando são chutados do ninho.
Não se confunda! Arch e NixOS são escolhas fantásticas e muito poderosos. Eles podem ser divertidos e recompensadores de usar. (NT: Por isso eu uso Endeavour/Garuda. É como Arch só que alguém mais inteligente fez a parte mais difícil pra mim!)
O que os torna bons?
- Minimalismo: Eles vem com basicamente nada embutido e exigem que o usuário configure coisas pessoalmente. Mas quando você faz isso seu sistema é verdadeiramente seu.
- Comunidade habilidosa e uma ótima Wiki. Especialmente a Arch Wiki é o recurso número 1 em qualquer coisa Linux, e se você conseguiu configurar Arch ou NixOS do jeito difícil, você aprende a entender as entranhas do Linux bem.
- “Rolling Release”: Quando um pacote novo está pronto, ele está disponível para você. Sem esperar o próximo “lançamento”
- Maior repositório de pacotes do mundo, e ainda muitos não oficiais criados pela comunidade
- Excelente gerenciador de pacotes
-Alternativas-
Se alguma das vantagens do Arch e NixOS te chamou a atenção mas eles soam difíceis demais para você, aqui está algumas opções que você pode considerar. Não são minha escolha principal, mas são populares por boa razão:
- Debian: Uma das distros mais antigas. É a base de várias outras distros, incluindo Mint, Ubuntu, Zorin e mais. É estável (na versão normal pelo menos), flexível (suporta várias arquiteturas de processador), e minimalista (se você quiser).
- OpenSuse Tumbleweed/Slowroll: Rolling release como o Arch, mas com uma rede de segurança mais robusta por trás.
- EndeavourOS: Distro baseada em Arch com padrões sãos e que já vem configurada para você. (NT: We are #1!)
-Menções honrosas afins-
-Pop!_OS-
Também é recomendado com frequência. Uma distro popular para quem gosta da coerência do Gnome, mas não do workflow “diferentão” e quer funções como tiling. Boa alternativa ao Ubuntu, especialmente para gaming.
- Feita por um fabricante de notebooks
- Baseado em Ubuntu/Debian
- Atualmente levemente atrasado. Os desenvolvedores estão focando em desenvolver sua própria DE que deve sair logo. Eu recomendaria Fedora (uso geral) ou Bazzite (gaming) e fazer ajustes com extensões quando/se necessário. Mas ainda é uma opção viável.
-MX Linux-
- Recomendado para dispositivos velhos com performance sub-ótima.
-TuxedoOS-
- Melhor distribuição baseada em Debian a vir com KDE
- Também feito por um fabricante de hardware.
-Um lembrete do seu amigável tradutor-
No meu post original eu mencionei o valor de usar uma máquina virtual para brincar com o Linux sem se comprometer a nada. Eu mantenho esta posição. As recomendações do autor são sólidas
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